Luís Carlos LucianoJornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida
O homem biscoito
O cartorário Renê Miguel conta que em 8 de dezembro de 1944 houve uma briga muito feia em Dourados entre paraguaios e brasileiros. Diz ele que foram dados mais de três mil tiros no centro da cidade e três pessoas morreram, uma delas o então dele-gado daquela época. No lugar onde hoje encontra-se instalada a agência do Bradesco, existia uma casa onde morava uma senhora negra sem um dos braços, muito distinta e conhecida. Apesar da deficiência, fazia pães caseiros como ninguém. Fazia uma pilha deles para vendê-los. Naquele dia da briga, um dos douradenses, fugindo do encalço, entrou correndo na casa daquela senhora, sem ser visto, e acabou se escondendo dentro do forno, ainda meio quente com a fornada daquele dia. Passado algum tempo, quando a polícia ainda fazia rondas pela cidade, o sujeito gritava por socorro porque ele, no apuro, entrou no pequeno forno mas não conseguia sair. Os homens que ouviram o chamado e se depararam com aquela cena cômica e ao mesmo tempo desconcertante, pegaram umas picaretas e começaram a quebrar a boca do forno. Naquilo chega a dona Joana, vendo os homens quebrando o forno e sem saber o acontecido, passa a berrar: - Seus *&#@&$, parem de quebrar o meu forno! - Até que enfim conseguiram tirar o rapaz. Mas não deixaram de tirar uma casquinha. Apelidaram-no de biscoito.