Não ignore o olhar de peixe morto!
*Luís Carlos Luciano
O belo Rio Dourados há muito não é mais o mesmo, isso não é nenhuma novidade.
A cor barrenta sim é a de sempre.
O rio está com olhar de peixe morto!
Uma tristeza mortífera!
Ele grita por socorro e ninguém o acode.
Também pede ajuda o restante da flora e da fauna douradenses, mas a poluição entupiu os ouvidos das pessoas e dos governos.
Em vez de serem todos ouvidos se fazem de moucos!
O rio, os córregos e os bichos podem ensinar muito.
E não param de cobrar, numa coreografia de apelo, a falta de consciência e de uma política pública ambiental de verdade e não de mentirinha.
Além do olhar de peixe morto, o Rio Dourados anda choroso, remelento e com nhaca no nariz...
Mas não por culpa dele!
Liguem para o 192 do SAMU enquanto ainda resta um sopro de vida no verde desbotado...
O ambiente de vida aquática, mesmo agonizante, mata a fome e a sede dos ribeirinhos e dos urbanos...
Ele não tomou drogas por curiosidade.
Enfiaram-nas barranco abaixo!
Substâncias venenosas se misturam ao lixo onde a vida parcialmente nasce e se renova...
A roda do círculo natural está sendo rapidamente retorcida, enferrujada...
O manancial não está mais suportando o sofrimento e a covardia.
Teria arquitetado um plano para a vil vingança.
Compartilhar aquilo que mais e mais o destrói com os ditos inteligentes eretos de dois pés que habitam as cidades...
Teria decidido: seria olho por olho!
Ou melhor: olho de peixe morto por olho de peixe morto!
Afinal, a água barrenta corre para a água barrenta...
* O autor é jornalista, licenciado em Letras e pós-graduado em Teoria da Literatura e Literaturas de Língua Portuguesa pela UFMS. Autor de quatro livros: “O fenômeno Diário MS: dez anos de um sonho que está dando cada vez mais certo”; “Legislativo de Dourados: 1935-