Fuscachambó - 29agosto2000
Os taxistas andam chateados com a concorrência das moto-táxis.
Enquanto eles ficam vendo o tempo passar, o concorrente não pára de cruzar a avenida para cima e para baixo.
O desânimo é tanto que eles estão perdendo a vontade de conversar. Estão cansados de ficar à toa enquanto chega o dia de pagar mais uma prestação do carro. Quando toca o telefone de algum cliente pedindo táxi, eles tomam um susto.
Enquanto o Parafuso - apelido de um deles - estava deitado no banco traseiro do seu carro, chegou um cliente. Dali a pouco, mais outro e quanto retornou ao ponto não precisou nem desligar a chave porque outra pessoa o aguardava.
Naquele dia abençoado por Deus, fez quase 30 corridas, tirando o atraso dos últimos meses.
De repente, passa uma moto-táxi com o escapamento aberto, fazendo um barulho infernal. Parafuso cai em si e acorda do sonho, desaparafusado.
- Pôxa vida, alegria de pobre dura muito pouco mesmo.
Vendo que o ponto estava no mesmo lugar, a mosca zanzava no pára-brisa, a teia de aranha ornava o telefone e não aparecia uma alma viva, voltou a se deitar no banco pensando consigo mesmo: quem sabe volta aquele sonho gostoso.
É por isso que dizem que sonhar alimenta o espírito. O duro é concluir que a realidade é uma só. E Parafuso adormece novamente, ao som urbano de motos, buzinas, apitos. O único que não faz barulho é o taxímetro.