Fuscachambó e trupe procuram o fio da meada
Eis o fuscachambó alongado no espreguiçador quando lhe chamam. Era madame Lú.
Bora procurar o fio da meada da história douradense? O fusca pensou. Fio da meada da história? Que conversa maluca é essa? Então vamos que vamos...
Ele chamou o Alimério, antenado nesses assuntos...
De brinde veio a Rafa com aquele olhar estampado de curiosidade.
- Eu adoro uma história! Tô dentro! Vamos ver onde isso vai dar...
Sem GPS. Mas como usar o GPS numa busca assim?
Tem-se apenas o foco de procurar onde isto aqui começou ou por onde teria começado.
Dizem gauchadas, mineiridades, paulistismos, coisas de índios, paraguaios e blá, blá, blá...
Vamos à Cabeceira Alegre onde existia o campo de aviação...
Bom, o campo não existe mais. Nem se sabe onde ficava... Nem uma birutinha de lembrança...
- Por que a Cabeceira Alegre chama-se Cabeceira Alegre? – pergunta Alimério.
Ninguém sabia.
- Será porque aconteciam muitas festas por aqui? – chutou a inquieta Rafa...
Ninguém sabia.
- Ponto pra cegueira! – disse Alimério.
Atravessaram a Marcelino Pires em direção a Weimar Torres...
- Aqui eu sei. Essa rua se chamava Rua dos Velhacos, antiga Rio Grande do Sul – contou Alimério – já mostrando no tablet uma foto dos anos 50 na fanpage “Tudo sobre Dourados”... Velhaco porque quem devia no comércio da Marcelino só passava por aqui...
- Velhaco... Sei... Sei... Acho que continua atual em alguns trechos e não só nessa rua... – disse o fusca com seus parafusos em tom debochador...
Passando pelo centro Alimério se recordou do jornal O Rolo que teria sido criado pelo jornalista Caiado Neto e bancado pelo Dr. Lourenço...
A cada esquina uma informação interessante e reveladora, um novo esquecimento...
Mas como conciliar passado e presente, evitar que a água fervida desapareça?
A química para o equilíbrio, quem sabe, seria o registro em todos os seus quadrantes possíveis, imagináveis e inimagináveis. No mínimo!
Mas não. Aqui se pratica o Humanitismo machadiano.
Aos vencedores as batatas! Aos derrotados a inanição!
Seguiram em direção à região da Fazenda Coqueiro lá pelos lados do Exército... O fusca ficou interessado não pela fazenda, mas pela história de que ali havia um alambique que fazia a Aguardente Coqueiro... Da pinga não sobrou nem o cheiro, nem o Zé Pinga e nem o Colono da época...
Retornaram à cidade e foram ao centro onde existia o Clube Social na década de 50.
- Clube Social? Cadê? – perguntou Rafa.
- Madame Lú indicou o prédio em construção há décadas sepultando o patrimônio antigo...
- Hummm!... Mais um tento pra cegueira! – apontou Alimério.
Esticaram o olhar para a praça e lembraram que essa mesma praça já se chamou João Pessoa e na esquina existia um ponto de charrete...
Mas hoje nem sinal...
- Ponto pra cegueira! – disse novamente Alimério rindo das conclusões ululantes... Cine Ouro Verde? Cadê? Só em fotos na fanpage...
Eles começam a concluir que aqui virou terra de muitos cegos como no ensaio de Saramago e nisso o fusca engasga e proft! Parou! Travou!
Todos ficaram sem entender...
- Madame Lú só deu uma xícara de caracteres para o tanque... Querem o quê? Acabou-se o combustível! – reclamou fuscachambó.
Nada de encontrarem o fio da meada da história local...
Será que ela existe?
Esse quarteto nem tirou a ferrugem da fechadura do baú...
O passeio foi tão curtinho quanto à memória douradense...
Bom, deixa pra lá... Ninguém está mais vivo pra contar...
Madame Lú e Rafa atentas às cutucadas...