Mad Mariazinha
Em meio à exuberância, ao requinte da pousada onde os jornalistas ficaram bem alojados em Três Lagoas (MS) durante um encontro da categoria (8 e 9 de abril de 2005), um pequeno e velho trator Massey Ferguson modelo 50, com perto de 30 anos de uso, com o formato de uma mini-locomotiva atrelada a uma réplica de um vagão lembrando as jardineiras e a vovó Sorocabana, foi uma das sensações.
Não apenas pelos solavancos para quem não está acostumado à vida rural, pela “lambida” áspera do mato para quem se dispunha a ficar na “janelinha”, mas também pelo jeito, pelo ambiente bucólico e pelo condutor, o Sebastião, simpático e paciente com os impávidos e elétricos visitantes, para estes, quase tudo uma festa emocionante e inesquecível.
O Élvio Lopes, certamente o jornalista com a melhor e inigualável gargalhada destas plagas, fez rapidamente a relação do trenzinho com Mad Maria. Para se chegar a Mad Mariazinha foi um pulinho de carinho, poesia e nostalgia. Daquele momento em diante, era a Mad Mariazinha que trepidava cruzando as areias para lá e para cá, dando idéia breve e passageira de aventura no mato separando o retiro, o ambiente com a piscina e adereços com chuveirinhos e o restaurante à beira do remanso do Paranazão.
Esse equipamento pode ter sido visto com naturalidade e sem a devida percepção no primeiro momento e por todos que até hoje por ali passaram. Mas bastou um grupo trovejante de Dourados (MS) desembarcar para nivelar o conceito de jornalista amadurecido enxergando além dos próprios olhos e a influência da televisão.
Em meio a noviços de Gutenberg e a outros literalmente calejados pela prensa, mas ainda dispostos a continuar aprendendo porque a sede pelo conhecimento nunca se cessa, a experiência do evento em si e seus diferentes recortes deixam lembranças e uma memória curiosa. Quem agregou valores à pousada, ao passeio na usina da Cesp cujo nome, Jupiá, significa, no tupi-guarani, redemoinho perigoso –; à eclusa, à abertura do evento, à fala do renomado Hermano Henning, enfim, todos os colegas que subiram e desceram da Mad Mariazinha, certamente trouxeram a mala cheia de coisas abstratas, pensamentos somatórios, novos ensinamentos e novas sensações, apesar do pouco tempo.
Além de toda a eficiência e cortesia, a concepção em terra de um pedaço do Paraíso, os aspectos cultural, social e profissional merecem o maior respeito e admiração. Quem esteve lá e pensa contrário que atire a primeira pedra! Não se trata de demagogia ou elogio baratos, mas quem não andou de Mad Mariazinha, por um motivo ou outro se excluiu dessa oportunidade, não pode sentir a mesma emoção, apenas imaginar e torcer para que, em 2006, o espetáculo se repita e a delegação seja maior.
Como definiu o dono do tucunaré, Antônio Falco: aqui se come com os olhos! Pensando assim, a caravana de Dourados ficou mais gordinha...
Mas, voltando à intrépida Mad Mariazinha, é necessário se frisar para quem não entende patavina de máquina, a raridade de se encontrar tratores daquele tipo ainda em condições de uso. Quem o possuí, é por capricho ou por paixão.
Deram uma aposentadoria razoável para ela. Além do serviço de vai-e-vem, ela decora, concorre com araras, com gastronomia, com remanso, com por do Sol, em plena harmonia com a natureza.
Para o cronista que sempre vê a máquina como uma extensão da inteligência humana e da sua capacidade de transformar as coisas para melhorar, para confortar, as máquinas, quanto mais velhas, exercem uma fixação redobrada. Parece um enigma, um imã, uma nostalgia, uma alma na forma de ferro, aço, ligas e parafusos, algo obviamente expurgado pela religião e pelos céticos. Mas como compreender, exatamente, a sensibilidade humana?
Agregar valores e o olhar diferenciado sobre fatos e questões inerentes ao encontro talvez tenha sido a maior lição.
Aos que brindaram a cerveja, a alegria pode ser elevada ao quadrado ou ao cubo dependendo do tanto consumido; aos que tomaram banho de lama, a sensação de ficarem sujos e com algum resquício atrás da orelha ou em outra dobra qualquer; aos que brincaram de pique, a sorte de não terem levado uma picada de cobra; aos que viram belas espécies de biquíni, um babador; aos que viram a água do Paranazão subir na eclusa, a sensação de tecnologia, da grandiosidade da obra humana e como a energia elétrica custa cara; aos que chegaram perto da turbina, o aviso de como deve ser o inferno de Dante; aos que viram enormes paredes de concreto, a tristeza e amargura de como deve ser a prisão...
A Mad Mariazinha deve estar com saudade da turma do barulho ou então se sentindo aliviada com a ausência da caravana que não parava de ir e vir.
Ao “tiozinho”, ficou um abraço da galera; ao senhor Falco, um obrigado daqueles que se divertiram bastante em sua “praia”; ao anfitrião Ricardo Ojeda, um incentivo para que continue sempre brilhando e crescendo profissionalmente porque abençoado seja aquele que se contenta e sente alegria com a evolução de um companheiro; aos demais organizadores, patrocinadores e apoiadores da jornada “Gutenberguiana”, a certeza de que todos voltaram felizes, experimentados e agradecidos. Aviso aos navegantes: isto não tem a formatação de jabá, apenas reconhecimento, gratidão.
A adrenalina verbal poderia proporcionar mais e mais comentários sobre aqueles dois dias e noites agradáveis, mas detalhar demais sobre Mad Mariazinha talvez poderia levá-la ao incômodo da indiscrição. O bom demais se tornou, repentinamente, um crepúsculo vespertino cujo Sol se rende ao silêncio da Lua e ao mistério das estrelas. Deixe cada qual dos ilustres visitantes com seu juízo sobre essa mini-locomotiva que estabeleceu um elo entre o ontem, o hoje e o amanhã.